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A consultoria é um misto de conhecimento, muita informação, informação constantemente atualizada, empatia, percepção, sintonia interna e empatia, visão sistêmica, facilidade de encontrar caminhos e soluções, propensão e arte para a ação, novamente empatia, muito bom senso e muita facilidade de interação pessoal. Enfim, é simples, mas não é fácil!



Causos de Quaresma




Dentre os muitos causos que já ouvi na vida, destaco alguns que me foram contados pelas minhas avós, bem difíceis de esquecer.


Conta-se que na época da quaresma, que se inicia hoje (quarta feira de cinzas) e vai até a semana santa, todas as assombrações e aparições do bem e do mal resolvem pintar pelo mundo afora. Vou deixar aqui somente dois, contados por minha avó paterna (dona Sebastiana) e minha avó materna (dona Maria).

Lá pelos meus 7 a 8 anos, época em que acreditamos em tudo que nos falam, as duas me contavam muitas histórias, cada uma com seu objetivo. Minha vó Maria queria me catequizar através do medo, já a vó 'Bastiana' queria me mostrar como a fé é surpreendente. Cada qual com seu jeito, que ao contrário do que parece, a vó Maria era bem meiga e amorosa, já a vó Bastiana tinha a rusticidade do mineiro, daqueles que desceram a serra da Mantiqueira e vieram se assentar no Vale do Paraíba.

Com a vó Bastiana aprendi muitas lendas dali daquela região antiga, o Vale que liga São Paulo ao Rio de Janeiro. Caminho dos bandeirantes que saíam mato a dentro a buscar ouro e a escravizar índios.

Era a Loira do Banheiro das escolas, que também assustava os caminhoneiros na via Dutra. A dona Maria Peregrina, também conhecida como a mulher do saco. O Corpo Seco, homem que fazia maldades e acabava morrendo no ato de uma delas. A escrava Lavínia lá de Pindamonhangaba que aparecia nua na beira do rio Paraíba, atraindo e afogando os homens desavergonhados. O lobisomem de São Luiz do Paraitinga, aquela cidade que sofreu uma enchente que destruiu todo o patrimônio de casas antigas, seculares. Tem festival do lobisomem até hoje em São Luiz.



Mas o causo de quaresma que a vó Bastiana me contou que mais me marcou foi a do Negrinho do Pastoreio. Esse já devem conhecer da época em que se festejava o dia do folclore nas escolas nos anos 60, 70 e 80. Mas a forma como ela contava me hipnotizava. Era desenhado e floreado de um jeito que eu enxergava as cenas todas. Contava que lá pros lados de Itajubá em Minas Gerais na época dos escravos, o Negrinho era um menino da minha idade (7 anos + ou -), escurinho que nem a noite sem lua. A mãe tinha morrido no parto, mas que contaram a ele que a mãe dele era lá do céu, que desceu aqui só pra lhe dar à luz e depois retornou pra morar nas estrelas e ficar de olho nas outras crianças do mundo. Filho de escravo, foi logo cedo pra labuta e o seu serviço era cuidar dos cavalos. Mas não pense que eram uns pangarés não, contava minha vó arregalando os olhos, eram uns bitelos, de corrida, gigantes, de cabeleiras enormes, ariscos de um jeito que o menino tinha medo inté de chegar perto. Um deles era tão bravo e ligeiro que sumiu no meio do mato e o Negrinho não conseguiu encontrá-lo. Chegando na fazendo, contou ao feitor e esse deu uma surra tão covarde que o menino ficou todo cortado de chicote e amolecido como se tivesse morrido. O feitor quis sumir com o corpo do coitado, jogou num formigueiro, daquelas formigas saúva, vermelha como fogo e da picada mais ardida que a de vespa. Isso foi numa sexta feira de lua cheia bem na quaresma. Na manhã seguinte o feitor voltou lá pra ver se as formigas haviam dado cabo do corpo do moleque. Não tinha formigueiro, não tinha corpo, mas um pouco mais a frente ele viu correndo em sua direção o cavalo fugitivo, em cima dele o Negrinho todo faceiro, que ao chegar perto baixou no mesmo momento uma nuvem fofa e o feitor conseguiu ver uma mulher vestida de Nossa Senhora, mas com o rosto da falecida mãe do menino, que ele conhecia bem.
Essa história contada pela minha vó tinha muito mais graça e cor que aquelas lidas nos livros da escola.
Mais tarde vim a saber que essa é uma lenda do Sul do nosso país, mais precisamente do Rio Grande do Sul. Mas não me perguntem como a minha vó mineira localizou essa lenda e a regionalizou.


O lobisomem pernambucano é o personagem que a minha vó materna, dona Maria, encontrou pra me botar medo e me ensinar a não roubar, mentir, ficar de libertinagem ou desobedecer e desonrar os pais.
Conta ela que lá no Pernambuco, na cidade de Garanhuns, onde ela e o nosso ex presidente Nine Fingers nasceram, existiam muitos cabras safados que acabavam aproveitando a lenda do lobisomem pra darem uma de espertos. Esse é um verdadeiro conto de terror! Dizia a lenda que um rapaz muito peludo, barbudo, cabeludo e sobretudo preguiçoso e folgado, vivia dando golpes nos moradores mais simples. Pequenos criadores de cabras, galinhas, porcos eram o seu alvo. Roubava à noite e levava pra mãe preparar o jantar e ainda sobrava pro almoço de vários dias. Sempre que a mãe o questionava, desconversava, inventava histórias, dizia que ganhara em troca de serviço de pedreiro, de carpir roça... Mas o safado vivia de boa na lagoa, namorando todas as meninas em idade ainda escolar. Ai daquelas quem não cedessem, ele pegava a força e até batia. Diz minha avó que quando era moleca teve que sair correndo pro meio do mato (caatinga cheia de arbustos espinhentos) e se esconder numa gruta, por conta do boa vida a estar seguindo. Daí a lenda se misturava com a vida real. Imagina o quanto me assombrei!
Mas que um dia a mãe do salafrário descobriu as malandragens do caboclo, que quando chegou em casa com um leitãozinho, pedindo pra mãe o preparar, essa soltou o verbo e começou a relatar tudo que ela descobrira. O sem vergonha partiu pra cima da mãe e a esbofeteou, jogando-a no chão. Era uma noite de lua cheia em plena quaresma. Advinha.... A coitada da mãezinha toda esfolada ainda olhou pro céu e maldisse aquele que tinha saído do seu ventre. Jogou uma praga que o faria perambular pelo mundo, sem morrer, sem sossego, vivendo do fruto do seu roubo, não sendo aceito por nenhuma sociedade que não conseguisse enganar. Ou seja, a praga o deixou mais monstro que já era. Meeedoooo! Como o cabra já era peludo, logo a vizinhança o apelidaria de lobisomem. Então qualquer coisa que sumisse nas redondezas, sejam roupas, galinhas, patos, cabritos bem na época da quaresma e especialmente em noite de lua cheia, era imediatamente associada ao lobisomem de Garanhuns. "Tenho cá comigo que os ladrões de galinhas da região aproveitavam a época e a lenda pra culpar o peludo". Palavras da vó Maria, que continua: "Certa noite de lua cheia na quaresma, nos preparávamos pra dormir, quando ouvimos um alvoroço no galinheiro lá no quintal. Meu pai pegou um facão, minha mãe pegou-se no rosário e nos obrigou a entoar o terço. Vi uma mão peluda entrando pela parede de pau a pique e tentando me segurar pela perna. Abri um berreiro tão grande, que mais que de pressa meu pai veio com o facão e deu um golpe, arrancando o dedo mindinho do bicho, que ficou lá pulando que nem rabo arrancado de lagartixa. Tivemos que queimar aquilo". Mais uma vez a lenda se misturando com a realidade. Meeeedoooo!
E por falar em realidade, dizem as boas línguas que o safado amaldiçoado pela mãe, não conseguindo mais se virar em qualquer cidade do nordeste, se mandou pra sumpalo, mais especificamente pra São Bernardo do Campo. Meeedooo!

Esses e outros causos, minhas avós queridas me contavam, me moldando e me educando. Assim, foi nessa pegada paulista, mineira e pernambucana que fui criado. 

Hoje em dia não se fala mais em assombrações desse tipo. A quaresma é só um intervalo entre os feriados do carnaval e da páscoa. O medo e o fantástico perderam seus encantos. Ou pior, o fantástico se perdeu e o medo prevaleceu, só que transformado pela realidade corrupta dos governantes, dos espertos que não estão na política mas estão no meio de nós (adulterando produtos e serviços, levando vantagem e dando golpes nos mais simples) tornando esse país na antítese do paraíso a que estava destinado.

Meeedoooo!


Milton Ramos


O Estresse nosso de cada dia


Recebi este texto por e-mail do meu amigo Antonio Marmo. Como ele não citou a autoria, para mim o autor será ele mesmo...

Em uma conferência, ao explicar para a platéia a forma de controlar o estresse, o palestrante levantou um copo com água e perguntou: 
-"Qual o peso deste copo d'água? " 
As respostas variaram de 250g a 700g. 
O palestrante, então, disse: 
- "O peso real não importa. Isso depende de por quanto tempo você segurar o copo levantado." 
"Se o copo for mantido levantado durante um minuto, isso não é um problema. Se eu o mantenho levantado por uma hora, vou acabar com dor no braço. Mas se eu ficar segurando um dia inteiro, provavelmente eu vou ter cãibras dolorosas e vocês terão de chamar uma ambulância." 
E ele continuou:
- "E isso acontece também com o estresse e a forma como controlamos o estresse. Se você carrega a sua carga por longos períodos, ou o tempo todo, cedo ou tarde a carga vai começar a ficar incrivelmente pesada e, finalmente, você não será mais capaz de carregá-la." 
"Para que o copo de água não fique pesado, você precisa colocá-lo sobre alguma coisa de vez em quando e descansar antes de pegá-lo novamente. Com nossa carga acontece o mesmo. Quando estamos refrescados e descansados nós podemos novamente transportar nossa carga." 
Em seguida, ele distribuiu um folheto contendo algumas formas de administrar as cargas da vida, que eram: 
1 *  Aceite que há dias em que você é o pombo e outros em que você é a estátua. 
2 *   Mantenha sempre suas palavras leves e doces pois pode acontecer de você precisar engolir todas elas. 
3 *   Só leia coisas que faça você se sentir bem e ter a aparência boa de quem está bem, caso você morra durante a leitura. 
4 *  Dirija com cuidado. Não só os carros apresentam defeitos e têm recall do fabricante. 
5 *  Se não puder ser gentil, pelo menos tenha a decência de ser vago. 
6 *   Se você emprestar R$200,00 para alguém e nunca mais vir essa pessoa, provavelmente valeu a pena pagar esse preço para se livrar dela. 
7 *   Pode ser que o único propósito da sua vida seja servir de exemplo para os outros. 
8 *   Nunca compre um carro que você não possa manter. 
9 *   Quando você tenta pular obstáculos lembre que está com os dois pés no ar e sem nenhum apoio. 
10 *   Ninguém se importa se você consegue dançar bem. Para participar e se divertir no baile, levante e dance, pronto. 
11 *   Uma vez que a minhoca madrugadora é a que é devorada pelo pássaro, durma até mais tarde sempre que puder. 
12 *   Lembre que é o segundo rato que come o queijo - o primeiro fica preso na ratoeira. Saiba esperar. 
13 * Lembre, também, que sempre tem queijo grátis nas ratoeiras. 
14 *   Quando tudo parece estar vindo na sua direção, provavelmente você está no lado errado da estrada. 
15 * Aniversários são bons para você. Quanto mais você tem, mais tempo você vive 
16 *  Alguns erros são divertidos demais para serem cometidos só uma vez. 
17 *   Podemos aprender muito com uma caixa de  lápis de cor. Alguns têm pontas aguçadas, alguns têm formas bonitas e alguns são sem graça. Alguns têm nomes estranhos e todos são de cores diferentes, mas todos são lápis e precisam viver na mesma caixa. 
18 *  Não perca tempo odiando alguém, remoendo ofensas e pensando em vingança. Enquanto você faz isso a pessoa está vivendo bem feliz e você é quem se sente mal e tem o gosto amargo na boca. 
19 * Quanto mais alta é a montanha mais difícil é a escalada. Poucos conseguem chegar ao topo, mas são eles que admiram a paisagem do alto e fazem as fotos que você admira dizendo "queria ter estado lá". 
20 *  Uma pessoa realmente feliz é aquela que segue devagar pela estrada da vida, desfrutando o cenário, parando nos pontos mais interessantes e descobrindo atalhos para lugares maravilhosos que poucos conhecem. 

"Portanto, antes de voltarem para casa, depositem sua carga de trabalho/vida no chão. Não carreguem para casa. Vocês podem voltar a pegá-la amanhã. Com tranquilidade."

Erros!!!




Quem nunca errou? Quem nunca deu uma escorregada? Quem nunca pisou na bola durante o trabalho ou num projeto?
Essa é uma questão meio que tabu, mas vamos lá. Um texto agradável pra falar de um assunto muito punk.
No ambiente corporativo, cheio de regras, com o foco sempre na produtividade, um erro sempre pode ferrar com uma negociação. Seja por inépcia dos gestores ou mau momento da equipe estratégica.
A inexperiência ou mesmo mau domínio das regras de negócio é muito difícil de ocorrer em grandes grupos de empreendimentos. Mesmo porque, essa gente grande não tá acostumada a perder, portanto não se arriscam sem um bom gestor. Então costumamos acreditar que em equipe bem montada, bem patrocinada, a tendência é ter zero de erros e zero de recall.   Né?
Nem sempre. Já vimos exemplo de empresa grande e conhecidíssima vindo a público solicitar que seus clientes de um lote X, compareçam para troca de peças, regulagem em algum equipamento, etc. Ultimamente, várias já caíram nessa situação.
Geralmente pensamos que foi um erro de equipe. Que o time foi montado de maneira errada. Erro de gerente de projeto, erro de analista de negócios ou até mesmo do gestor geral.
Mas acredito mesmo que a maioria não seja por inépcia. Há uma linha muito sutil que separa o preparo da canastrice. E olhos bem treinados normalmente conseguem distinguir um do outro. Porém o que ocorre nas contratações tem se mostrado muito distante dessa garantia. Claro que a maioria das empresas consegue identificar muito rápido, uma vez que o portador do currículo “fake” esteja em projeto.
Portanto, despreparo de equipe em time vencedor, raramente acontece. Eles têm muitas ferramentas pra facilitar, a grana é muito grande.
Pra resumir o que ocorre nas grandes: uma equipe de dois caras bons acaba crescendo e contrata apoios (dos bons). Cresce mais ainda a capacidade de negócio, causando seu crescimento no mercado. Consequentemente aumenta-se a equipe para que se mantenha a liderança. Aquela velha história de que dinheiro atrai dinheiro, mas que com um pouquinho de talento, atrai muito mais.

Mas e por que ocorrem os erros “felomenais”?
Costumo acreditar que nem tudo é o que parece, por isso dou sempre uma pesquisada. Isso vem de longe, de época que eu ainda construía a minha personalidade.  Mas alio a isso a vivência pelos lugares que passei.
O bom de participar de derrotas de algumas equipes, como um recurso atuante, é a experiência de vivenciar as merdas que acontecem. Shit Happens, sempre e sempre. Conheci um gerente de projetos que costumava falar que ele estava naquela profissão não para dar resultados, mas para evitar as merdas que surgiam. Na opinião dele sempre surgiam. Então quando ele terminava o ano, não contabilizava os projetos que deram certo, mas sempre os que falharam povoavam o seu escore.
Aprendi um bocado de coisas com esse caboclo. Mas o que mais aprendi em todos os projetos que participei é a incógnita comum. Explico: incógnita comum é o fator Deu Merda.
O fator Deu Merda é o seguinte, tudo foi feito para se arranhar a superfície da perfeição. Métricas foram estudadas, metodologias infalíveis foram utilizadas, ferramenta perfeita foi comprada, equipe gabaritada. Tudo certo. Mas o projeto naufragou porque o patrocinador estava enfrentando uma crise financeira sem tamanho, a grana acabou e cancelaram tudo.
Ahh, mas e os nossos vendedores, não avaliaram a saúde financeira desse cliente? Por que não viram isso antes?
De fato, foi feito tudo nos conformes. Negociação perfeita, sem erros, o respaldo do cliente é ele participar do grupo dos grandes. Conhecidíssimo. E por que não fechar negócio?
O fator Deu Merda, neste caso aqui, é a certeza de que tudo será perfeito. Mas podemos chamar também de fator Deu Merda a confiança absurda da equipe perfeita.
O fator Deu Merda nem sempre vem com um valor apenas. Ele é a variável que mais trabalha, se alternando de valor a cada período. Uma hora ele significa excesso de confiança, noutra é grau elevado de risco, algumas vezes é oscilação negativa e inesperada do mercado, e se associar o elevado com o negativo aí a merda é grande mesmo. Tem até razões pessoais de um gestor chave estava envolvido na negociação (caganeira, acidente, corrupção – esta é muito comum no setor público).
Equipes ruins existem, embora em pouquíssimo número. Pois a seleção natural do mercado acaba por consumi-las. As que são consideradas inadequadas conseguem no máximo sobreviver um ou dois anos. E seu erro comum é acreditar que qualidade pode ser conseguida com corte de custo. Não vai, não rola, não agrega “statis”. Equipe ruim sempre está associada a baixo orçamento.

Pra falar de erros, vamos falar dos grandes, rs. Nestes, os erros que dão merda dão um resultado muito mais estrondoso, rs. Melhor não citar ninguém, né? Esse erro não quero cometer, rs.

Mas o legal é quando avaliamos esses fatores e descobrimos o quão bizarro eles são, mas ao mesmo tempo tão comuns.
Cito um apenas, tão comum e tão ridículo. O Deu Branco. É toda uma preparação, concentração, táticas elaboradas e coisa e tal. Mas na hora o Deu Branco aparece, some tudo da mente, sofremos um apagão e o raciocínio se perde. Quanto mais elaborada é a tarefa, mais complicada, que mais exige sangue frio, mais será o poder de atração para esse tipo de erro. O cara tá lá na frente, tudo decorado, ele domina o tempo e a atenção dos expectadores e de repente a voz não sai. Uma câimbra parece tomar posse do seu instrumento de comunicação. Não é a câimbra é uma sinapse de um grupo de neurônios que não foi completada. O encadeamento de ideias perdeu um elo e a construção da frase determinante pra conclusão da ideia se desmorona. Gagueira, o S sai assoviado, e o sujeito começa a fazer gestos de condutor de trânsito. E como esse gesto é típico, todos começam a encara-lo, a coisa piora num redemoinho de erros que o jeito é dar uma pausa ou pedir pra ir cagar.

Acabei de assistir uma cena que deu dó e ao mesmo tempo vontade de rir. Olimpíadas de inverno (Sochi.RU), a câmera fecha no casal de patinadores russos, ela toda durona segurando a mão dele, fixa o olhar e começa a repetir: não caia, não vá cair, esse é o nosso momento, fique frio, não vá cair, somos imbatíveis, estamos bem seguros, não caia carai, entendeu? (foi isso que entendi na leitura labial da russa, rs). Ele baixa o olhar e responde: claro querida, vamos arrasar.
No décimo segundo da apresentação, primeira pirueta dupla, o narrador do canal de esportes, afiadíssimo e conhecedor de todos os termos técnicos dessa modalidade, diz que é a pirueta duo xxxxx. E o negão, sim ele é um russo da minha cor, um russo bem russo, kkkkk,  ploft no chão. Carai, negão, ela não disse que é pra ficar firme? Pô, tinha que ser logo na entrada? kkkkkkkkkk.
Claro que não foi apenas ele quem tremeu na base. Ela acabou caindo quase no final. Não sei se por nervosismo mesmo, tipo: fodeu, perdemos, caralho!!! - ou se por companheirismo, se é pra cair, vamos juntos.

E a falha que observei dos narradores esportivos, os mesmos especialistas lá de cima, acompanhados de professores, ex-atletas, só equipe entendedora da modalidade. Vem a primeira dupla, russa, dança magnificamente, aplausos, ursinhos e rosas atirados pela plateia. A torcida de casa ovaciona até o aquecimento. Os narradores indicam as peculiaridades de porque essa dupla mereceu a nota, blá blá blá técnico. A segunda equipe chega, russa também, plateia ao delírio aplaudindo até a limpeza dos patins. Narradores seguros e se achando juízes do esporte, dão sua nota e indicam a primeira equipe como vencedora. Apontam inclusive erros grosseiros da segunda. Tudo bem explicadinho, mas vem a nota e desmente tudo. Pra isso sempre tem uma saída, e a desses dois foi formalizar no final – achamos que a primeira equipe é merecedora, mas o critério que os juízes usaram é que determinou a dupla vencedora.

Mas esses tipos de erros, tão comuns, acontecem sempre. Quando menos se espera, PLOFT...

E só temos que tirar lições aprendidas e apreendidas disso tudo. Shit Happens, always. Preparem-se para isso, pois é o divisor de águas quando se trata de equipes vencedoras e equipes que não chegam lá. Valendo aquela máxima: o homem que não errou é aquele que ainda não tentou. Mas aprenda, não tenha medo de errar, contanto que não cometa o mesmo erro mais de uma vez.
By Milton Ramos

O mito do “apagão de talentos”


Converse com um analista de RH, com um empresário ou com um proeminente executivo de grande empresa por mais de 20 minutos e você ouvirá a expressão do título desta postagem. A pessoa discorrerá sobre como há uma carência de profissionais preparados no Brasil, sobre como é difícil encontrar gente competente para posições que exigem algum preparo, enfim. Ela comentará que há um “apagão de talentos”, uma falta de pessoas preparadas para crescer e ocupar posições de responsabilidade e destaque.
Falarei futuramente sobre a visão de negócio dos empresários brasileiros, que é curta. Sobre a insipidez geral dos profissionais de RH, reduzidos a contratadores e demitidores em série e calculadores de benefícios legais de departamento pessoal. Sobre a falta de adaptação da alta-gerência à uma nova realidade empresarial que nasceu nos EUA na década de 1990 e agora chega aqui. Sobre a direção das empresas, crente que os profissionais do mercado não evoluíram nada nos últimos anos.
Mas neste momento quero focar em como o meio empresarial se apropria de modismos de revista para moldar uma situação alternativa à realidade do mercado. O mais forte dos modismos atuais é culpar o Apagão de Talentos pela inabilidade das empresas em angariar e reter bons profissionais em seus quadros.


A culpa é do mercado
A maioria das empresas, especialmente as grandes, gosta de culpar o mercado ou os concorrentes por seus próprios problemas. Não conseguir suprir suas áreas com trabalhadores de qualidade, em ritmo igual ao de demissões, é algo cuja culpa rapidamente se atribui a terceiros. O próprio ritmo das demissões deveria ser um indicativo de que a “política para retenção de talentos” da empresa tem algum problema. Se somos tão bons em reter talentos porque tantas pessoas vão embora? É uma pergunta que não é feita com a frequência necessária nos departamentos de RH.
“Nós não pagamos pouco, não oferecemos poucos benefícios, não temos um nome ruim no mercado profissional, não somos vistos como uma empresa que exige demais com metas nem sempre justas. Não! Nada disso! Nós não conseguirmos contratar novos profissionais com qualidade porque eles não estão lá fora!”
É cômodo e fácil colocar a culpa em terceiros. E, assim que a primeira revista “especializada” deu a deixa, todo mundo o fez.


Bons profissionais são como qualquer bom ativo
Eles estão lá fora. Mas você precisa procurar por eles. A maioria das empresas coloca um anúncio em sites de emprego ou empresas especializadas em Head Hunting que é mais ou menos assim:
Gerente de Projetos de Automação.
O profissional será responsável por gerenciar projetos de automação de dispositivos respondendo ao Diretor Industrial pelo andamento, orçamento, e entrega dos projetos a fim de manter os equipamentos em funcionamento. Ocasionalmente vai ter de trabalhar até tarde, incluindo em fins de semana, para terminar a implementação de projetos junto à equipe de técnicos industriais. Disponibilidade para viagens é mandatória.
Perfil
Formado em Engenharia. Pós graduação em Gestão de Projetos ou MBA serão considerados diferencial. Experiência de 3 anos é fundamental. Inglês fluente é mandatório.
Benefícios compatíveis com o mercado e remuneração à combinar.
 Ora, esse tipo de anúncio de emprego dá muitos indícios sobre a “política de retenção de talentos da empresa”. A empresa quer alguém ultra responsável que irá se reportar diretamente a alguém que facilmente ganha 3 vezes mais que ela. Com alguma chance de, em muito tempo de trabalho, ascender à essa mesma posição. Essa pessoa será responsável por uma função muito importante para o ciclo produtivo que facilmente gera receita de dezenas de vezes sua remuneração total anual. É uma posição bastante importante para o ciclo produtivo do contratante.
Ainda assim, note que a empresa pede alguém com 3 anos de experiência na posição, ou seja, enquanto inglês fluente é mandatório o desejo de evoluir profissionalmente é totalmente opcional. Trabalhar mais de 8 horas por dia é lugar comum e concordar em abrir mão do convívio familiar está implícito. E, por fim, a remuneração à combinar é prova clara de que a pessoa que reúna todas essas condições ainda será paga com o menor salário que seja possível considerando seu rendimento atual e sua vontade de mudar de emprego. Se na entrevista o funcionário mostrar grande descontentamento com seu empregador atual isso provavelmente reduzirá o valor que a empresa está disposta a pagar ao candidato.
Com tudo isso o responsável pela vaga vai ressaltar que é muito difícil achar profissionais que atendam ao nível de responsabilidade, experiência e requisitos da posição pelo salário que a empresa está disposta a pagar. Está criado o Apagão de Talentos artificial do qual estou falando. Se a vaga citada possuir um salário atraente, em nível daqueles pagos em outros países, garanto que não faltarão profissionais enviando currículos para a empresa.
O problema é que as empresas, ao comprarem seus ativos, normalmente olham para a qualidade e quando vão contratar pessoas olham para o preço. Reclamam que não encontram os profissionais que precisam mas nunca se dispõe a rever a forma como avaliam os processos de contratação.
Muitas empresas veem os funcionários como máquinas impressoras, com as quais se deve gastar o menos possível, como com toner remanufaturado. Que quando derem problemas serão facilmente substituídos. Deveriam ver o patrimônio humano como se fosse o predial. Que tem potencial de servir por anos desde que receba a “manutenção” adequada.
Entretanto a maioria das empresas se porta como uma solteirona de 50 anos que não queria nada mais do que um homem bonito, educado, elegante, cheiroso, cavalheiro, com um bom dinheiro e que fosse fiel. Ao não encontrar o que deseja, pois suas exigências estão altas demais, brada que está “faltando homem no mercado”. Agora sim a semelhança se fez notar, não é mesmo?

Prova dos Nove
Eu já pensava muito sobre isso simplesmente observando o mercado de trabalho em Florianópolis, cidade onde vivo. Como já trabalhei em São Paulo e em Curitiba tenho uma perspectiva privilegiada. Já pude observar processos de contratação de grandes multinacionais que usam como referência os salários que pagam à seus funcionários em outros países. Toleram pagar um pouco mais à seus empregados no Brasil. Como Florianópolis tem um número de grandes empresas estrangeiras (GEEs) menor do que outras capitais do Sul e Sudeste tem também a menor média salarial destas duas regiões.
Diferente de empresas locais, que muitas vezes se preocupam em pagar o menor salário possível aos contratados, as empresas multinacionais normalmente possuem tabelas de valores-base para posições importantes na cadeia de negócios. Isso faz com que um mercado local pequeno, como o de Florianópolis, jogue luzes nesse tipo de diferença. Vou ilustrar com um exemplo. Em Florianópolis é fácil encontrar gerentes de contas PJ de grandes bancos que ganham, com 5 anos de experiência na função, US$2,5mil/mês ou US$32.500 por ano para administrar carteiras que giram 10 ou 20 milhões de dólares/mês. É uma remuneração baixa para o nível de responsabilidade da função e não por acaso os bancos encontram dificuldades em recrutar profissionais para estas posições na região.
Sei de vagas que estão abertas há quase 8 meses e ainda sem previsão de contratação. Em contra-partida, já vi anúncios de gerentes de controladoria de empresas em São Paulo que pagam US$55.000 por ano exigindo o mesmo nível de experiência que a posição de gerente de banco. E eu entendo que as responsabilidades envolvidas na controladoria são menores simplesmente porque você tem apenas um patrão a quem prestar contas, enquanto na gerência de contas você é cobrado por duas partes que possuem interesses quase sempre contrapostos.
Este é apenas um indício de que os baixos salários em relação às exigências das vagas faz os profissionais escassearem. Entretanto há outra evidência. O Google Brasil reporta receber mais de 1.200 currículos todos os meses de pessoas interessadas em trabalhar em um de seus escritórios. Pode, com todas as letras e cores, escolher quem contratar. O contraste em relação ao banco que tem a vaga aberta por 8 meses é a materialização da cultura corporativa e a forma como a empresa olha para os funcionários. Voltarei nisso em um instante.
O Google faz coisas de forma diferente, até na área de recursos humanos. Um funcionário recebe um prêmio de até R$5mil quando uma indicação sua termina em contratação. No Natal de 2009 cada funcionário da empresa recebeu de presente o smartphone que o Google vendia, o NexusOne. Pense sobre a última coisa que você ganhou do seu empregador. Entendeu porque o Google consegue ter uma fila de pessoas se candidatando todos os dias?

Como ver o funcionário
Empresas criativas veem o funcionário como um agente de novas ideias. Fala-se muito no discurso corporativo sobre o valor que as ideias tem (lembra o slogan do Santander: O Valor das ideias) e sua importância para os negócios. E se a empresa precisa de ideias para usar como combustível da inovação os funcionários ganham valor. Não há muitas empresas assim no Brasil pois elas estão em um novo pedaço da economia capitalista que ainda não floresceu por aqui.
As empresas da economia tradicional muitas vezes olham para as pessoas apenas como partes de suas estruturas, complementos dos processos. E como tal, podem entender que muitas vezes eles atrapalham o funcionamento dos processos e precisam ser substituídos por pessoas que se adaptem melhor ao jeito como as coisas são feitas. Ao contratar procuram pessoas que irão se encaixar à esse perfil e traduzem isso em demandas exageradas por habilidades e experiência.

Por exemplo, uma empresa que exija grande tempo de experiência em uma função relativamente simples sinaliza, antes mesmo da contratação, que não vai dar treinamento para os funcionários. Que não vai se preocupar em patrocinar cursos, pós graduações ou outras formas de evolução profissional. Digo de antemão que qualquer empresa que demande experiência maior do que 6 meses para qualquer posição de analista não está comprometida com a evolução profissional do funcionário.
A disposição para ensinar é a característica mais importante de um professor. Uma empresa que deseja gente pronta, que entre no jogo jogando, não está comprometida com a evolução profissional. Portanto não vai saber valorizar (com dinheiro e não com cartões de natal decorados) profissionais com perfil mais completo. Se você é um profissional mais experiente e completo deve buscar empresas que dão valor à educação corporativa e à evolução dentro da empresa, para conseguir o maior valor pelo que você oferece.

Ausência de métricas
O mais interessante é que o mundo corporativo adora números, siglas e métricas, mas nunca ninguém criou nada para parametrizar a forma como os funcionários são remunerados por suas atividades. Mesmo tendo uma sigla e um índice para cada linha dos seus balancetes corporativos as empresas não dispõem de uma métrica para que seus funcionários possam avaliar se estão sendo bem pagos, proporcionalmente à seus pares ou colegas de outras empresas. Como saber então se você está sendo pago justamente pelo trabalho que está desempenhando?
Estranhamente os salários são tratados de forma super confidencial, ainda que o balanço e ou caixa das empresas sejam até publicados em jornais para que todos possam ver. O segredo aqui é mantido por razão simples, para que a empresa pague a cada um o mínimo possível para que ele desempenhe sua função. Se você descobre que alguém que faz a mesma coisa que você ganha 30% a mais a primeira providência é pedir um aumento. Ocultar a informação salarial é essencial para que as empresas possam continuar funcionando e pagando aos seus proprietários valores cada vez mais altos.
Nada contra isso e contra o capitalismo, muito pelo contrário. Mas a falta de transparência na questão salarial contrasta com todo o blá-blá-blá corporativo sobre meritocracia e reconhecimento de valor das pessoas. Em um ambiente realmente meritocrático não haveria problema se todos os funcionários soubessem o salário do chefe. Seria até um incentivo para trabalhar mais e mais em vista de uma promoção.
Se você ainda não aceitou esse argumento pense na seguinte perspectiva. Na escola exibimos à todos as notas mais altas dos melhores alunos. Não há pudor em se exibir uma nota 10. Isso é incentivado. Na etapa seguinte, na vida corporativa, a nota 10, isto é o melhor salário, deve ser escondida a sete chaves. Faz sentido?
Mostrar meritocraticamente o salário do chefe para a equipe só não funciona bem em dois casos específicos:
1- O salário do chefe não é tão bom frente à responsabilidade que ele tem, e ter conhecimento disso traria um revés aos ânimos da equipe. Essa situação costuma ocorrer no chão de fábrica das indústrias;
2- O salário do chefe é muito alto em relação ao salário da equipe e desproporcional em relação à carga de cobranças e responsabilidades individuais, e isso causa insatisfação à equipe que entende que alguém que não trabalha tanto ganha muito mais. Essa situação costuma ocorrer nas empresas de serviços a partir da média gerência.
Pela falta de um parâmetro mais geral o profissional precisa se basear em sua própria carreira para definir se o seu salário é justo. O modelo que eu adoto é medir o quanto ganho para cada ano que estudei. Em tese eu devo conseguir aumentar o valor por ano de estudo a medida que minha carreira progride. Assim, ao me formar na faculdade eu tinha estudado por 18 anos (da primeira série até o quinto ano de faculdade com mais 3 de secundário) e ganhava US$94,28/mês para cada ano de estudo. Hoje estou com 19,5 anos de estudo e ganho US$133,64/mês para cada ano de estudo. Se eu decidir fazer um MBA de 18 meses preciso de um aumento real de salário de 7,6% apenas para que o investimento no MBA valha a pena.
Essa métrica é interessante pois vai permitir que você compare sua remuneração com seus colegas de função, caso você saiba o salário e tempo de estudo deles. Mas não vai funcionar para comparar sua função com outras posições. E nesse aspecto você precisa desenvolver sua própria percepção de salário/responsabilidade para cada posição de sua empresa.

Voltando ao Apagão
Sobre o apagão fictício de talentos que estamos vivendo eu defendo que as empresas têm pecado e oferecido remunerações muito tímidas para vagas que exigem pessoas muito qualificadas e dispostas a enfrentar grandes responsabilidades. Conheço dezenas de profissionais muito qualificados que não se sentem atraídos pela maioria das vagas que aparecem em seus e-mails porque não estão confortáveis com a ideia de trocar de emprego para ganhar 300 ou 400 reais a mais por mês.
Grande parte dessa questão está ligada à quantidade de informação que as pessoas recebem sobre empresas da chamada nova economia, como o Google, citado anteriormente. Claro que nem todas as empresas podem pagar remunerações como o Google e portanto terão que se contentar com profissionais de nível mais baixo, por assim dizer. E aí surge outro problema. No momento de definir os critérios para as vagas as empresas escolhem padrões exageradamente altos, acima da realidade para os salários que estão dispostos a pagar. Vagas com experiência de 4 anos e inglês fluente, mas com salários de R$2.500,00 são comuns e, sinceramente, fora da realidade. O que dizer de anúncios buscando vendedores com carro próprio e que oferecem R$1.800,00 mais Vale alimentação?
Completa esse quadro a globalização. Ela própria que equalizou os preços de commodities no mundo todo e virou clichê para explicar tantas coisas. As empresas não perceberam que, em um mundo globalizado, a mão de obra, mesmo a especializada, é uma commodity como a soja, o minério de ferro e o petróleo. Os salários da alta-gerência e diretoria das empresas brasileiras já são equivalentes aos pagos nos EUA e Europa, mesmo de empresas médias e pequenas. Porque esses profissionais dispõem da possibilidade de ser empregados por empresas para trabalhar offshore. Profissionais de média gerência e segundo escalão estão experimentando o dessabor de desempenharem, em empresas nacionais, funções equivalentes ao de colegas de outros países e receberem uma fração apenas do que aqueles ganham.
Ao avaliar que o Itaú Unibanco é o banco com maior lucro líquido absoluto do continente no 1S2011, incluindo seus competidores dos EUA, não se pode esquecer que um gerente do Itaú ganha cerca de 1/4 do que um gerente do Bank of America nos EUA. Inclua na análise que durante a fusão entre Itaú e Unibanco os funcionários ficaram por 2 anos com suas remunerações congeladas (sem que nenhuma promoção ou ação de mérito pudesse ser efetuada) e fica fácil entender de onde vem a lucratividade tão alta do banco. É fácil ser a empresa mais lucrativa do seu segmento no hemisfério se seus funcionários são sub-pagos e você fica 24 meses sem dar um único aumento.
Entretanto, como isto afeta a satisfação dos funcionários, e o blá-blá-blá corporativo sobre ser feliz no trabalho? Não muito, desde que seus concorrentes também se esforcem para pagar o menor valor possível para cargos que exigem conhecimento profundo sobre finanças, certificação das autoridades competentes e uma grande dose de responsabilidade.

Entretanto quanto seus melhores funcionários começam a receber propostas de outros segmentos da economia você precisa justificar o fato de não conseguir repor profissionais tão competentes quanto aqueles que saíram. Há uma resposta certa e uma resposta fácil. E o Apagão de Talentos é novamente citado.
Postado em: Vida Profissional by Fabio Luiz

O ócio inesperado e a vida que continua


Nunca, mas nunca mesmo na história deste país, passei por este momento. Sempre tive medo de algum dia ficar desempregado. Esse dia chegou.

Aos 43 anos de vida, no auge da maturidade sexual, afetiva, profissional, espiritual e... desempregado.

Estou há pelo menos dois meses sem atividade profissional, sem remuneração e sem expectativa de encontrar algo tão cedo. Sempre mudei de emprego, despedi meus empregadores e partir pra várias melhores. Hoje sou o homem sem trabalho. O ócio é minha atividade mais frequente nesses últimos tempos. Improdutivo, sem renda e me sentindo sem valor algum na sociedade.

A falta do que fazer me faz procurar atividades quaisquer para que o tempo passe. É uma limpeza na casa, uma navegada na internet, alimentar os bichos, ajudar minha esposa a fazer o almoço/jantar (às vezes adiamos algumas dessas atividades para ter o que fazer no dia seguinte), interagir com a família dela que agora também é minha, assistir filmes e documentários interessantes ou arrepiantes. Tudo isso em busca de alguma coisa pra ocupar a mente.

Escrever esse post também está sendo uma atividade e tanto. Ocupa a mente pra katanga.

Ouvir música, escutar e dialogar com a companheira todos os tipos de temas (políticos, humanitários, besteirols), namorar bem gostozin, cuidar da higiene, olhar, rs... só olhar o jardim e de vez em quando mexer em alguma planta, retirar o cocô da Tereza, observar o ninho de bem te vi com filhotes no pinheiro do nosso quintal, ir ao mercado. Assim que me levanto (e nem posso dizer que é de manhã cedo, pois não é) parto pra outras atividades: dar leite no pires pro Freddy e pra Tereza, responder aos e-mails sobre currículos que enviei, preencher formulários eletrônicos em busca de vagas, ler o noticiário no G1 e em outras fontes (sempre desconfio da Globo), postar coisas legais no Facebook (pelo menos eu acho), sentar no sofá da sala e ficar de bobeira ouvindo os risos da mulher muito amada enquanto vemos algo engraçado.
Há tanto pra fazer quando não estamos fazendo nada, inclusive ficar parado. Mesmo assim me pego de bobeira pensando “por que não estou embrenhado em alguma causa humanitária, aproveitando esse tempo e me doando a quem realmente precisa de braços, de uma conversa, de atenção?”.  Volto a pensar na vida que vivo e me lembro que antes de ajudar ao próximo, será imprescindível ajudar a mim mesmo e, enquanto essa desculpa colar, vou adiando um pouco mais.

Mas e aí? O que tô fazendo de errado? - me pergunto. Ouço uma voz lá no fundo, um sussurro de um velho sábio: “Está apenas vivendo, meu caro... Pois a vida é assim, cheia de altos, baixos e médios, com picos de tirar o fôlego e também calmaria desesperadora, onde se olha o mar a sua frente e não se vê nada, apenas água”. “Mas - continua o velho sussurrando – se tiver um olhar mais profundo, verá que mesmo nisso que chama de ‘apenas água’ existe um universo de vida borbulhante que se perde ao olharmos apenas a superfície”.

Lembro constantemente de uma conversa com a Lylian minha esposa, sobre se enclausurar por um tempo, pra se transformar, adquirir fôlego novo e depois recomeçar. É assim que ela pensa e pratica. Eu fico no questionamento. Ooo caboclo pensador que sou. Não estou acostumado a dar um tempo, nunca precisei pensar na vida enquanto ela profissionalmente não acontece. Dinâmico, sempre me embrenhei no trabalho e me especializei em algumas coisas, geralmente atividades que facilitariam o operacional de alguma empresa ou grupo de pessoas. Sempre profissional, achando que viver é ser produtivo e algumas poucas vezes humano. Salvo ocasiões em que resolvi escrever sobre alguma coisa (o blog, podem perceber, se iniciou com uma proposta de discutir sobre o mundo corporativo, mas depois foi mudando), me empenhar em práticas esportivas que dominava bem (putz... voar de paraglider e mergulhar de scuba diver, noossaaa!!!), viver para os filhos em um casamento que se iniciou errado, cultivar poucas amizades sólidas, frequentar grupos sociais geralmente voltados para atividades profissionais, me separar do casamento errado mas que me ensinou muito, mas continuar vivendo para os guris. Mesmo assim e apesar de todas essas coisas, a impressão que tenho é de ter vivido uma vida corporativa e só.

Obviamente essa visão não é só minha. Muitos pais e mães de famílias, velhos e jovens estão na mesma “vibe”. Somos criados para produzir. Mininu o que você vai ser quando crescer? – é o que nos perguntam quando criança. A escola, a família, a sociedade como um todo está sempre cobrando isso. E muitos lares se desfazem quando o desemprego ronda. Muitas pessoas se desestruturam quando não conseguem uma recolocação no mercado. Pois se enxergam apenas como operários, se esquecem que são gente. Gente que vive, que existe e que está aí com várias missões no mundo, uma delas é o trabalho. Porque a sociedade atual está moldada dessa forma, o sujeito que não trabalha perde o crédito na praça. Sem dinheiro se vê limitado à infinidade de coisas. Não tendo mais a habilidade de plantar e caçar, morre de fome ou vai roubar. * Atenção: Os exageros são permitidos neste texto, pois trata de desabafo literário sem pretensão de ensinar porra nenhuma!

Como quase tudo que fazemos na vida em sociedade está ligado ao trabalho, agora sem atividade profissional, me vejo num mundo novo em que a visão se amplia. Apesar das assustadoras preocupações de um desempregado, estou refletindo muito e reaprendendo a ser um humano comum, com uma vida a ser partilhada com a esposa, família e amigos. Vivendo em uma sociedade que te reconhece mais pelo que você produz e menos pelo que é.  E por não possuir talentos especiais, vivo a normalidade do homem comum, “verborrajando”  e soltando os demônios, mas mantendo a serenidade e a compreensão de que viver é isso.

O mundo é incrível, nós é que somos indiferentes


Esse post marca novamente o retorno ao blog,  dessa vez vai, rs.
É algo que sempre quis escrever, mas por falta de tempo, veio outro e "pimba!".Texto extraído do site papodehomem.com.br (ah, por que simplesmente não colou aqui um link pro site? 
Well, tô querendo voltar a escrever e essa é uma maneira de retomar o blog, primeiro lendo outras coisas, depois opinando sobre e por último escrevendo algo realmente meu)
Autor: Alberto Brandão
Boa leitura!
O comediante Louis CK tem uma entrevista fantástica, intitulada “tudo é incrível e ninguém está feliz”.
Com esse olhar que começo esse texto:
Vivemos em uma das eras mais fantásticas da nossa história e nossos contemporâneos estão por aí perdendo tudo isso, olhando uns para os outros com um olhar blasé, com a indiferença de quem está acostumado com tudo e não dá a mínima para o que está acontecendo.
Desde que nossos ancestrais mais antigos saíram da pangeia, que aprendemos a cultivar nossa própria comida e nosso cérebro sofreu uma enorme mudança, sendo capazes de compreender informações e melhorar processos. Desde as pirâmides, Grécia antiga, Roma, escola de Pitágoras, grande muralha da china, ENIAC ou qualquer outro marco evolucionário que possamos destacar.Nunca tivemos acesso tão fácil a tanta informação.
Temos acesso praticamente ilimitado a todos os assuntos existentes e, se não conseguirmos achar nada sobre isso, podemos encontrar alguma pessoa que nos apontará uma pista de onde procurar. Podemos acessar praticamente qualquer material, sabendo que ter ou não dinheiro, nunca importou tão pouco.
Nossas pequenas caixas de areia
Gostamos de nos portar como pessoas evoluídas, mas conhecimentos valiosos estão morrendo com as pessoas mais velhas, simplesmente porque não sabemos dar o devido valor. Gostamos de nos iludir, achamos que desfrutamos de um imenso mar de conhecimento, quando na verdade, estamos brincando em uma caixa de areia, onde sentimos uma vaga ideia de como seria navegar nesse mar.
A internet tem uma quantidade ridiculamente grande de sites, blogs, fóruns e todo formato agregador de conteúdo. Eu sei que você sabe disso. Mas qual a última vez que navegou além das páginas que acessa com frequência? Quando foi que tentou entender um assunto além dos dois primeiros parágrafos da Wikipédia? Somos uma raça superficial, nos tornando cada vez mais superficial.
Nadamos segurando na borda da piscina, só sabemos aquilo que conseguimos enxergar da borda.
Quando foi a última vez que ouviu um álbum por inteiro? Escutou todas as músicas, na ordem que foi planejado e organizado? Quando foi a última vez que procurou escutar músicas que nunca ouviu antes? Compositores clássicos, estilos diferenciados, artistas de um país tão pequeno, que não sabe pronunciar o nome? Já escutou um Rock Nigeriano? Ou uma escola de samba finlandesa?

Podemos ter acesso a tudo isso, mas insistimos em nos manter dentro dos limites da nossa caixa.
Não há tanto tempo assim desde que eu precisava esperar uma música passar na rádio, para gravar e poder ouvir de novo. Os mais novos não conhecem a frustrante sensação de ouvir uma musica fantástica na rádio e nunca mais encontrá-la novamente.
Podemos escutar toda música que já passou no mundo. Tudo que está passando agora e nem sonhamos.
Novamente, nunca foi tão fácil.
E pior, sistemas estão sendo desenvolvidos para nos colocar cada vez mais dentro desta caixa. Seu tocador de música sugere coisas idênticas ao que está escutando, seu site de vídeos e filmes sugere similaridades do que gosta, e você, sem perceber, se fecha em um mundo inteiramente limitado. Sites de busca mostram resultados filtrados para se parecer com o que mais procura, redes sociais mostram apenas conteúdo dos amigos que mais conversa. Sem perceber, você vai ficando preso a uma realidade.
De repente, todo mundo tem uma opinião similar à sua. Tudo diz o que você quer ouvir, assim, sua ilusão se torna cada vez mais real.
Você está sendo tratado como uma criança mimada, com pais que não contrariam, só mostram o que vai agradar.
Deixe-se deslumbrar
Fotografias nem sempre foram acessíveis.
Quando criança, sempre quis ter uma máquina fotográfica, demorei muito tempo para ganhar a primeira e, ainda assim, filmes e revelação eram caríssimos. Não tirávamos foto de qualquer coisa. Fotografia era um momento especial, nos vestíamos apropriadamente para isso. Hoje em dia tenho quatro câmeras de qualidades diferentes em casa e não tiro fotos quase de nada.

Quando fotografias ainda eram pinturas, representando apenas aqueles que tinham poder para contratar um artista e ilustrar sua imagem, tudo era diferente. Mas imagine quantos momentos preciosos não foram perdidos por falta de uma simples câmera?
Agora que temos recursos amplos, todo aparelho celular tem uma câmera embutida, porque tratar isso como algo ruim? Certamente nossos ancestrais nos achariam malucos de desperdiçar toda essa possibilidade.
Por que nos incomoda tanto quando alguém posta foto de comida no instagram? Deixem as pessoas filmarem gatos sendo engraçados. Vamos editar de vídeos de Harlem Shake, afinal, quantas vezes em toda nossa história fomos capazes de gerar uma piada mundial, compreendida por todas as culturas?
Não somos obrigados a gostar e participar de tudo, mas o excesso de reclamação é tão ou mais chato que todos esses hábitos descritos acima.
Tudo é fantástico e você está perdendo tempo vendo apenas o lado negativo de tudo. Usei o exemplo das câmeras para ilustrar, mas temos feito isso com praticamente tudo. Estamos perdendo a noção de quanto tudo é fantástico.
Não precisamos nos tornar escravos da modernidade, mas não ver o quanto tudo é lindo e perder a oportunidade maravilhosa de viver e se deslumbrar com o mundo é bem triste.
Saiba desligar todos os seus aparelhos luminosos e passar um final de semana isolado em uma cachoeira. Mas sorria sozinho quando voltar pra casa, voando numa máquina de quase 80 toneladas.
Entenda quanto tudo é incrivelmente maluco e por isso, muito mais fascinante.

* * *
Meu complemento:
Escreverei depois um texto que indique o quão privilegiado somos, não em termos tecnológicos, mas em termos de evolução humana mesmo. Em breve, rs (dessa vez eu retorno mesmo ao blog).